SINALIZAÇÃO TUPI-GUARANI
& LUSO-CATOLICISMO
João
Barcellos
Parte 1
Existe
uma verdade histórica sob o manto do colonialismo econômico-militar e
religioso? Não. Existem conceitos de sobrevivência na sinalização ancestral dos
povos florestais? Existem.
A primeira
não- verdade que vos conto (e confesso que já estou farto disto, mas não
desarmo...) é que não existe índio/índia. A saber:
1-
Quem nomeou os povos florestais encontrados abaixo do Equador foi um
navegador ignorante chamado Colombo que, ao aportar na região pensou estar
na Índia e ter passado a perna no rei João II, de Portugal. Estava errado e
sabia disso, mas não hesitou em nomear as pessoas como índio e como índia.
Alguns anos depois, o rei Manuel I, de Portugal, deu continuidade ao
Projeto Índia, do rei João II, e o condestável Pedro Álvares Cabral seguiu
as instruções do almirante Vasco da Gama: fez uma volta oceânica no
mar-de-longo além de Cabo Verde e tomou posse da costa à qual chamou
de Terra de Vera Cruz, e daquele ´porto seguro´ continuou o caminho para a
índia.
2-
Ao contrário da ignorância do genovês a serviço dos castelhanos, o
escrivão Caminha, da armada cabralina, não grafou índio ou índia na carta ao
rei, mas gentes, pois, sabia que não estava na Índia, mas a caminho da
Índia... E a grande verdade que deve ser mencionada
e conversada, acadêmica e socioculturalmente, está na linguagem dos povos
florestais. A saber:
3-
Os nomes das pessoas nativas têm peso socioecológico;
4-
Os nomes dos lugares são apenas isso, i.e., sinalização logística que
permite o ir-e-vir entre lugares e aldeias.
O
que significa isto?
Que a
pessoa nativa ganha nome depois da infância e esse nome relaciona-se com a
Natureza telúrico-cósmica e a Natureza animal, daí os nomes de animais,
plantas, flores e constelações. Por isso, a aldeia é uma escola e a vida
animal é o instrumento didático para a pedagogia que é o aprendizado da
(sobre)vivência, logo, a liberdade da pessoa é igual à liberdade de cada
animal. E isso, independentemente de as pessoas viverem em ocas ou em valas e
grutas.
Que para
cada lugar existe uma denominação: se é terra grande ou pequena, se é lagoa
grande ou pequena, se é caminho de pedra ou apenas picada aberta no mato, se é
rio grande, riacho ou queda d´água, se lugar de pedra grande, chata, pedra que
rola com as chuvas, pedra negra, pedra que brilha, etc. Diante da paisagem a
pessoa nativa apenas expressa o seu (re)conhecimento, não nomeia. Os povos
florestais registram mentalmente, de geração em geração, um mapa logístico
idêntico ao mapa das ervas medicinais – uma cultura oral que leva a
reconhecer cada lugar e a aprender a viver de maneira preventiva no campo da
saúde.
Obs.: Venho a este
assunto depois de ouvir uma palestra com o cacique guarani Cafuzo Tukumbó
Dyeguaká e o pajé tupi Pitotó, proferida na manhã de 20 de Julho de
2012, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) sob
coordenação de Júlio Abe Wakahara. E, pelo que ouvi (decidi não intervir,
apenas escutar), reconheci palavras sábias de outras pessoas guaranis que
escutei em 1989, 1995, 2005 e 2007, em cidades do sudeste brasileiro,
particularmente acerca do Piabiyu (Peabiru), o caminho ancestral
guarani. E por isso, alongo-me agora em mais uma breve análise à situação
nuclear da história que é a Sinalização Tupi-Guarani no âmbito da
Colonização Luso-Católica.
Parte 2
Se
para europeus a toponímia (catalogação de lugares) é tão importante
como os nomes próprios, para os povos florestais importa(va) somente a
geomorfologia e a mobilidade territorial, por outras palavras, liberdade plena
de ação. Para europeus a mobilidade era e é o escalonamento social entre muros
(a cidade, o condomínio), para os povos florestais só importa a liberdade que
os leva a agir (caça, pesca, namoro, casamento, guerra, cânticos e decisões
grupais) por aquilo que são e representam na Natureza telúrico-cósmica.
A
chegada dos povos europeus (portugueses, castelhanos, germânicos,
genoveses, ingleses, franceses, holandeses) ao espaço dos povos florestais
do Mundo Novo, a norte a sul, determina, nas primeiras décadas do Século 16,
uma atitude de conquista imediata pela força
socioeconômica (escravagismo com e entre os povos
nativos, cunhadismo) e pela força militar (companhias paramilitares
pagas e dirigidas pelos colonos, do tipo bandeira), como a desencadeada a
partir de Tumiaru (batizada como São Vicente) e
de Piratininga(batizada como São Paulo).
O pensamento
econômico-religioso ocidental colide de imediato com a espiritualidade
telúrico-cósmica dos povos do Mundo Novo: a) do Ocidente chega a
bestialidade beatificada que demarca espaços, segrega gentes de outras raças e
credos, escraviza; b) na Linha Equatorial e abaixo dela
estão povos que sobrevivem na e pela sinalização telúrico-cósmica, ou
seja, orientam-se pela Espiritualidade que os leva de cara para o vento e os
fazem buscar abrigos de cara para o sol (dia) e de cara para a lua (noite)
festejando unicamente a liberdade de viver. Mercantil e bestializado pela
crença no materialismo puro, e nisso também acompanhado
pelo igrejismo (religiões institucionalizadas e colonizadoras) o
povo do Ocidente desconhece a plena Liberdade e acha-se no direito
(conquistador) de destruir povos e civilizações para reconstruir a sua própria
em território alheio; c) ele não entende que a manifestação de vivência da
pessoa florestal é a celebração do instante que a liberta para mais uma
jornada, e acha nisso um ato de rebelião de gente que não quer trabalhar, e
então, escraviza, tortura e mata. E quando tenta perceber melhor
a linguagem da pessoa florestal o povo que veio do mar apenas
interpreta sons para lhes dar um sentido ocidental e católico, nunca para
preservar aquela maneira de estar e de ser. Foi o grande erro que ampliou e
consolidou a odisséia colonialista luso-católica. Aprenderam até a dialogar
(formaram intérpretes / línguas) em tupi-guarani para se
garantirem no Mundo Novo, mas isso foi só mais uma maneira/manobra para
acabar com a linguagem nativa, tanto que isso serviu mais para a instalação de outro
estatuto mercantil: o escambo. Tanto o mercantilismo como o igrejismo
fundaram um Novo Portugal sobre os escombros do espaço
tupi-guarani utilizando os mesmo caminhos da ancestralidade nativa.
O povo
do Ocidente, e neste caso em particular, o ibérico católico, carregado de
materialismo, não poderia perceber/entender a sinalização sociocultural da
pessoa florestal – a pessoa que pinta o corpo para se dizer, a pessoa
que busca o encontro das energias telúrica e cósmica para determinar o
espaço da casa e os caminhos a abrir, que vai de perna-de-pau ao mato para não
deixar rastro de odor e evitar que os animais a caçar percebam as
armadilhas, que não atribui valor econômico a nada nem a pedras preciosas,
que não conhece o mal nem o bem, porque vive em liberdade e pode ter
as esposas que quiser desde que não toque nas dos outros..., assim como
cada cacique escolha as penas do cocar de acordo com as suas
características, e, isso o faz ser reconhecido em qualquer outra aldeia.
Que
ocidental poderia, no Século 16, entender a filosofia dos povos da floresta?
Nem um.
E
por isso é que as diversas línguas (a guarani, por ex., possui diversos
dialetos) formam eixos de comunicação que resultam, em alguns casos, numa
língua comum (tupi-guarani, por ex.) utilizada também pelos povos de fora.
Parte 3
Duas Questões
Exemplares
De Erro Estórico
Questão Itavuvu
Durante as pesquisas em
torno do Morro Berassucaba, na região iperoniana de Ipanema,
deparamo-nos constantemente com a designação itavavuvu (ou itavuu)
e itapebuçu, e sempre desconfiamos
que itavuvu e itapebuçu seriam a mesma ´coisa´, mas, como
essa ´coisa´ diferenciada vinha de muitos e dignos historiadores achamos melhor
não mexer até podermos entender e colocar os pingos historiográficos nos ii dos
contos oficiais, como diz o pesquisador Adolfo Frioli. Até porque esta questão
tem a ver com a historiografia sorocabana... O próprio Friioli, em 2011, pôs em
´cheque´ a história de Sorocaba, mas o fez por e com ilações (embora justas)
diante dos resultados das pesquisas no complexo geomorfológico e histórico
do Morro Berassucaba (ou Araçoiaba). E agora? Ele, como eu, e também o
biólogo Luciano B. Regalado, ficamos diante da prova que faltava para dar
um trato historiográfico final àquela ´coisa´ indefinida entre
itavuvu e itapebuçu – a saber: o cacique guarani Tukumbó
Dyeguaká, colocado diante das designações explicou que “itavuvu e itapebuçu dão
significado a uma mesma coisa, porque trata-se de caminho de pedra e caminho de
pedra preta no mesmo lugar”.
Então, o Governador Francisco de Souza instalou no arraial mineiro da
Família Sardinha o povoado denominado Nª Sª do Monte Serrat, em 1599, com
pelourinho, e logo depois, em 1611, transferiu o mesmo pelourinho para Itavuvu,
ou Itapebuçu, localidade que recebeu o nome de S. Felipe.
O que significa isto em termos historiográficos?
Que a região hoje conhecida como sorocabana teve início com o pelourinho
no arraial mineiro do Morro Berassucaba e continuidade em Itavuvu: a fundação
histórica da região sorocabana só pode ser datada de 1599 quando se instalou o
primeiro pelourinho.
Tinha razão Adolfo
Frioli e nós, parceiros de pesquisas, já sabíamos que algo teria de ser
alterado nas estorietas oficiais da região sorocabana, como têm que ser
alteradas as relacionadas à fundação da Vila de Piratininga.
Questão Goayanás Do mesmo modo, sempre pensamos
que goayanás designava uma nação nativa, ou uma linguagem
predominante. Nada disso: goayanás não é nação, é gente vizinha da
gente na linguagem guarani. Esta verdade altera profundamente a história
que conhecemos do planalto piratiningo, pois, e principalmente vários
religiosos com ênfase no padre “historiador” Madre de Deus, tentaram “desguaranizar”
a essência nativa da região Piratininga.
A
´descoberta´ não altera as ações historiograficamente conhecidas em que
esses povos vizinhos (goayanases) estiveram envolvidos, pois, o que
vai ser alterado é o mapa das tribos e linguagens dos povos florestais,
principalmente dos povos conhecidos ao longo do Piabiyu (ou Peabiru).
Após
20 anos de pesquisas e vários livros publicados, entre acertos e erros e uma
infinita paciência com o que o cacique guarani aqui citado chama de phdeuses (acadêmicos
que se acham no direito de dizer que conhecem, e ponto final), chegar à certeza
de que a chave historiográfica para a compreensão social do Piabiyu (ou
Peabiru) estava e está no conhecimento do ser/estar Guarani, é para mim uma
celebração cultural. Primeiro, porque nenhuma academia forja o escritor nem o
historiador; segundo, porque só as pesquisas de campo e o amor ao passado que
nos fez transforma a vivência em sobrevivência pelo cântico da espiritualidade.
A
tentativa de “branquear” a história é uma questão comum a muitas nações que
tentam delimitar a importância dos povos ancestrais, mas tem mais peso
sociopolítico no Mundo Novo, e, obviamente, no Brasil.
Parte 4
Não
foi por acaso que os padres jesuítas quiseram, e tentaram (é
verdade), transformar o Piabiyu (ou Peabiru) no “caminho de São Tomé”,
pois, para suavizar a colonização luso-católica era preciso catequizar os povos
nativos e fazê-los crer no deus ocidental. Seria impossível pregar a ordem
e a hierarquia sem um deus punitivo, oposto à divindade libertadora da gente
nativa que preconizava até um caminho que leva à terra sem mal... Muitos povos
caíram na armadilha de Manoel da Nóbrega e de Anchieta, mas a essência
guarani da trilha que leva à terra sem mal ficou intocada mesmo com a sobreposição
artificial de um santo católico, e isso no momento em
que Tumiaru virava São
Vicente e Piratininga virava São Paulo, entre centenas de outros
exemplos da toponímia colonial ibero-católica.
Entretanto,
e porque obrigada a dialogar com nativos para sobreviver, as gentes
colonizadoras trataram de aprender a língua e, nisso, configuraram uma língua
geral dita tupi-guarani, que seria jogada no lixo, a partir do Século 18, com a
determinação imperial de se falar português.
Com
a maioria das etnias destruídas, as gentes florestais não tiveram como se opor
à ordem e à hierarquia impostas pela colonização, assim, a evolução
daquela “ilha” de Sancta Cruz inventada por Cabral teve o seu eixo urbano
centrado na exploração de pedras preciosas e assentamentos agro-pecuários.
Enquanto isso, só a Língua guarani resistia – e resistia porque era a língua de
um povo nômade e continental com estrutura social e espiritual própria, tanto
que o Império teve que, e já em 1563, mandar fechar a trilha Piabiyu para
evitar mais contatos entre nativos, castelhanos e portugueses... E nem isso
conseguiu, porque do cunhadismo nasceu uma raça mista que começou a gerar
a Nação brasileira: a gente mameluca. E foi com a gente
mameluca (filhos de João Ramalho, do Bacharel de Cananéia e do ´velho´
Affonso Sardinha, entre outros) que o Piabiyu continuou como trilha do
progresso socioeconômico luso-paulista e da sinalização tupi-guarani.
Parte 5
Diante
do mapeamento mental e da orientação espiritual guarani percebe-se
como o Ocidente ibero-católico perdeu o rumo do diálogo social, pois, sem
aferir quem era quem no espaço a ocupar preferiu neutralizar quem não era dos
seus, e de quem não conseguiu se livrar, particularmente do tronco
tupi-guarani, sofreu influências socioculturais tupi-guaranis que moldaram
a Língua portuguesa no Falar brasileiro, o que favoreceu o nascimento
da Cultura brasileira sob Língua portuguesa.
Sociedade
& PHDeuses
Quando
se pega em questões como as aqui relacionadas (“itavuvu” e “goayanás”) para
aferir situações historiográficas pontilhadas por estorietas oficiais que visam
´branquear´ a geografia lingüística dos povos ancestrais e sobrepor a
língua da dominação, pega-se em questões de Poder absolutista: faça-se a
crônica segundo o desejo do Poder. E se o Poder não é nativo nem dele tem
sequer resquício histórico (apesar da gente mameluca e afro-brasileira), o
óbvio é que a Nação possua uma estorieta de cartilha escolar, e pronto. As gerações
que vêm não precisam saber que tivemos povos florestais e negros..., ou que a
indústria brasileira nasceu numa forja de ferro num morro distante entre
sorocas e arraia-miúda escrava.
Em
alguns casos – e anote-se a importância singular de Theodoro Sampaio para os
primeiros estudos – verifica-se a boa intenção de ir buscar dados para compor
um mapeamento do histórico nativo paralelo ao desenvolvimento
colonial e, a partir dele, conceber uma historiografia para além da
cultura oral tupi-guarani. Óbvio, era difícil para os primeiros técnicos e
historiadores um diálogo íntimo com as gentes nativas, em plenos
Séculos 19 e 20, ainda em extinção; e de tal expedição surgiram teorias e
mapas cuja precariedade ressalta aos olhos de qualquer pessoa nativa ilustrada
entre os Saberes ocidentais, mas a preservar a sua linguagem, o ser/estar
nativo. Por exemplo, ouçamos o cacique guarani Cafuzo Tukumbó Dyeguaká:
“[...] e quando olho para o mapa das tribos feito por Theodoro Sampaio eu
rejeito a maioria das informações nele gravadas”, porque “nome guarani ou tupi
não é como nome de rua ou praça, é uma orientação espaço-espiritual”, e
“guarani não escolhe o lugar da casa por ser um lugar bonito, mas porque no
local recebeu a boa vibração espiritual”. Por outro lado, “quando os tupis
querem dizer de um povo que chegou primeiro dizem tamoio, ou se querem dizer
mais antigo dizem tupinambá”. Assim, tanto tupinambá quanto tamoio
designam praticamente o mesmo sentido de mais antigo, e não um povo, uma nação.
Isto
altera o sentido historiográfico estabelecido entre os Séculos 19 e 20.
A questão é idêntica à do Século 17, quando franceses, em Paris, gravavam
mapas “do Brasil” sob narrativas de padres jesuítas... Nesses “mapas”
percebe-se o aportuguesamento de palavras tupi-guaranis que, em alguns casos,
alteram a história!
Mas,
por que a intelectualidade ocidental-brasileira não buscou entre os povos
nativos os Saberes que facultariam uma melhor compreensão sociocultural?
Porque, para a intelectualidade ocidental o Conhecimento foi endeusado na
Universidade. Está certa, muito certa, certíssima, a designação
de phdeuses dada pelo cacique guarani a essa intelectualidade
empantufada e pançuda que se alimenta do erário público, mas pouco produz em
prol das comunidades, e que quando ´desce´ a uma comunidade nativa já o faz na
certeza de não buscar informações, mas de introduzir (o seu) “conhecimento” de
cartilhas pseudo pedagógicas. O professor Aziz Ab´Sáber dizia que “o estudo
teórico só tem validade quando a pessoa sai do laboratório e enfrenta a
realidade social e física quando, então, se o souber (ou se aprendeu), produz
trabalhos científicos dignos da sociedade” [in “Conversas com o Mestre
Ab´Sáber” – João Barcellos, 2011]. Sabe quem sabe, ensina quem sabe.
E a terminar...
Entre
as preocupações legítimas do Instituto Histórico e Geográfico de São
Paulo (IHGSP) quanto ao remapeamento da geeografia lingüística
guarani e tupi, e o retorno da região sorocabana à sua origem
berassucabana, ou itavuvuana, existe um espaço de estudos de extraordinária
profundidade sociocultural e étnica, a par de uma geomorfologia afim, no qual
se podem abrir novos horizontes para a Cultura e a História do Brasil.
BARCELLOS,
João – Escritor e Conferencista. Autor de “Piabiyu / a rota ancestral
guarani”, “Do Fabuloso Araçoiaba ao Brasil Industrial”, “Cotia / uma história
brasileira”, “Morgado de Matheus / um fidalgo luso na casa bandeirante”, entre
outros livros.
Correspondência:
Cx Postal nº16 Cep 06717-970 Cotia-SP
NOTAS
BANDEIRA – Grupo militar e/ou paramilitar de cerco e conquista de
territórios e povos. Agrupamento de combate formado pelos colonos portugueses à
semelhança da “bandera” árabe, com a qual lidaram no norte africano.
CUNHADISMO – Casamento arranjado entre colonos e caciques servindo as filhas destes
como núcleo de ascensão social e político-belicista: o colono ganhava espaço de
negociação na tribo e entre tribos e ainda, se assim ousasse, passava a estar
ao lado dos caciques em atos belicosos (como foram os casos de João Ramalho e
do Bacharel de Cananéia, entre outros exemplos). Do cunhadismo
resultou a gente mameluca, i.e., filhos e filhas do cruzamento entre o colono
branco e a mulher nativa.
ESCAMBO –
Negociação feita pela troca de objetos, territórios e pessoas. Com o escambo,
os portugueses (Bacharel de Cananéia e o ´velho´ Affonso Sardinha, por ex.)
reutilizaram o Piabiyu/Peabiru, o caminho ancestral guarani, para introduzirem
no continente uma economia liberal saem a tutela da Coroa lusa. O evento foi
acompanhado e teve a parceria dos padres jesuítas que, por decisão de Manoel da
Nóbrega, iriam tentar fundar entre os guaranis um império teocrático próprio.
IGREJISMO –
Denominação dada pelo poeta português J. C. Macedo, e continuada por João
Barcellos, para situar socioculturalmente o mercantilismo das igrejas-estados,
e, na maioria dos casos coloniais, agentes de suma importância na destruição de
outros povos.
LÍNGUAS –
Nativos treinados pelos padres jesuítas para servirem de intérpretes e guiarem
os colonos nos seus interesses próprios, civis e religiosos. Também era chamada
de ´língua´ a pessoa ocidental que estudava o tupi-guarani e passava a
intermediar situações comerciais e bélicas.
ODISSEIA
COLONIALISTA LUSO-CATÓLICA – Termo utilizado poeta português J. C. Macedo,
e continuado por João Barcellos, para situar historiograficamente a pujança
místico-mercantil do Poder colonial, que era português na contingência política
e bélica, e também católica pelo lado mercantil e ideológico, pois, nada era
feito sem o conhecimento e o consentimento da Igreja de Roma que, obviamente,
recebia do todo colonial uma fartura porcentagem dos lucros.
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